A comunicação assertiva é a habilidade de expressar pensamentos, emoções e necessidades com clareza e respeito, sem recorrer à passividade ou agressividade.
No contexto clínico, especialmente para psicólogos em início de carreira, essa habilidade representa muito mais do que uma competência técnica: define a qualidade do vínculo com o paciente e o andamento do processo terapêutico.
Em uma sociedade onde os ruídos são frequentes, a comunicação assertiva surge como alternativa para promover relações mais saudáveis e autênticas. Saber se posicionar sem ferir, acolher sem se anular, escutar sem absorver passa por uma comunicação eficaz.
O psicólogo Robert Alberti dedicou mais de cinco décadas ao estudo e à prática da assertividade como ferramenta terapêutica. Ele se uniu a Michael Emmons, mundialmente reconhecido por desenvolver abordagens integrativas de saúde mental, para publicar o livro: Your Perfect Right: Assertiveness and Equality in Your Life and Relationships.
Um dos conceitos centrais da obra é o de “expressão assertiva de si mesmo”. Segundo Alberti & Emmons, isso significa agir de forma direta, firme e positiva e, quando necessário, persistente, para promover relações de igualdade entre as pessoas.
Essa abordagem permite que você defenda seus direitos pessoais e expresse sentimentos como amor, decepção ou raiva, de maneira honesta e confortável, sem negar ao outro o direito de fazer o mesmo.
Ao usar “mensagens-eu”, você reduz a chance de o interlocutor se sentir acusado e, ao mesmo tempo, comunica seus limites e necessidades de forma clara. Esse recurso é considerado uma das formas mais eficazes de intervenção assertiva em contextos terapêuticos.
Assertividade e Escuta Clínica: Uma Via De Mão Dupla
A escuta clínica é o alicerce do atendimento psicológico. No entanto, não se limita a ouvir com atenção. Exige escutar com presença, captar o não-dito, acolher a narrativa emocional do outro. Mas escutar bem não é suficiente: é preciso saber como intervir.
Um profissional que apenas se atenta, mas não consegue devolver ao paciente de forma clara e firme o que percebe, pode perder momentos valiosos de intervenção.
Por outro lado, uma interferência sem escuta profunda, pode parecer insensível ou precipitada. O método clínico prepara o terreno e a fala assertiva planta as sementes da mudança.
Comunicação Adaptada aos Perfis Comportamentais: O DESC na Prática Clínica
O modelo DESC (Descrever, Expressar, Sugerir e Consequências) surgiu na obra “Asserting Yourself: A Practical Guide for Positive Change” (1976), de Sharon Anthony Bower e Gordon H. Bower, e logo se tornou um recurso clássico para quem quer melhorar a comunicação assertiva e dar feedback de forma construtiva.
Ele guia o profissional por quatro etapas simples:
Primeiro, descreva o comportamento que você observou; depois, diga como isso te afeta; na sequência, sugira a mudança que gostaria de ver; e, por fim, destaque as consequências, boas ou ruins, que podem surgir dessa transformação.
A base teórica do modelo DESC encontra respaldo em estudos de psicologia comportamental.
Os psicólogos Marchezini‑Cunha e Tourinho, do Programa de Pós‑Graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento da UFPA, demonstraram que a comunicação assertiva funciona como um comportamento reforçado socialmente, gerando reforçadores imediatos como reconhecimento e validação e tardios como mudanças duradouras no repertório comportamental.
Marcella Andressa Bosquetti e Silvia Regina de Souza, especialistas em Análise do Comportamento e Terapia Comportamental e Cognitiva da Universidade Estadual de Londrina, revisaram 30 pesquisas sobre assertividade na Análise do Comportamento.
As profissionais demonstraram que: intervenções estruturadas, sobretudo por meio de role-plays e dinâmicas de grupo, elevaram em 40% as habilidades assertivas em crianças e adolescentes.
Em ambiente clínico, treinamentos com enfoque em comunicação assertiva reduziram em média 25% a ansiedade dos clientes e aumentaram em 20% a percepção de suporte terapêutico.
Esses dados comprovam que a comunicação assertiva não é uma técnica isolada, mas um componente de intervenção baseado em evidências, capaz de produzir ganhos reais para paciente e profissional.
Como Praticar Comunicação Assertiva no Dia a Dia do Consultório
Para incorporar a comunicação assertiva e a escuta clínica em sua rotina, experimente práticas que envolvem reflexão, simulação e autoavaliação.
Primeiro, reserve um momento após cada sessão para escrever três situações em que sua comunicação poderia ter sido mais clara e, em seguida, aplique o modelo DESC nessas situações no papel, simulando a fala.
Em supervisões ou grupos de estudo, proponha cenários desafiadores a colegas e interprete papéis, ajustando tom de voz, velocidade de fala e escolha de palavras até atingir fluidez e naturalidade.
Outra estratégia envolve gravar (com autorização ética) pequenas partes das sessões para, posteriormente, analisar como sua voz transmite segurança ou hesitação. Identifique trechos em que a assertividade ficou comprometida e reescreva mentalmente a sequência DESC até que ela soe autêntica.
Além disso, leia estudos de caso, destacando no texto como cada passo do modelo DESC foi aplicado, e analise possíveis adaptações para seu público específico.
Superando Desafios Comuns na Comunicação Assertiva
Mesmo psicólogos experientes encontram obstáculos ao usar comunicação assertiva. O medo de ferir o paciente pode levar à passividade, enquanto a tentativa de demonstrar autoridade pode resultar em tom agressivo.
Para lidar com esse dilema, reconheça que a empatia e a assertividade caminham juntas: mensagens em primeira pessoa reduzem o impacto de críticas e demonstram cuidado. Se você perceber que seu tom se torna monótono ou hesitante, trabalhe exercícios de dicção, expandindo a projeção vocal e variando entonações para reforçar a confiança.
Quando surgir a dúvida sobre se certa intervenção pode soar incisiva demais, pergunte-se: “Estou colocando as necessidades do paciente em primeiro lugar ou estou segurando informação por receio?”
Caso perceba insegurança, ajuste a mensagem, reforçando o objetivo colaborativo. Essa autorreflexão faz parte do processo de desenvolvimento da escuta clínica e da comunicação assertiva.
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A Comunicação Como Instrumento de Transformação
Quando bem aplicada, a comunicação assertiva transforma o vínculo terapêutico. Ela potencializa a escuta clínica, fortalece a presença do profissional e dá mais consistência ao processo psicoterapêutico.
É uma habilidade que precisa ser desenvolvida ao longo da carreira. Como dizem Alberti & Emmons, “a assertividade é a base da autoestima e da saúde emocional”.
Conclusão
A comunicação é uma das habilidades mais poderosas para psicólogos, seja ao atender clientes, ministrar palestras ou até mesmo se posicionar nas redes sociais.
O Clube da Fala pode te ajudar a desenvolver sua comunicação assertiva e fortalecer a escuta clínica em um ambiente totalmente prático.
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